quarta-feira, dezembro 01, 2004

Um "cromo" de Ponta Delgada

Numa tentativa de continuar a relembrar várias pessoas que deram e dão a Ponta Delgada parte de si e que fizeram dela aquilo que ela hoje é no panorama político e social dos Açores e do Mundo, hoje vou lembrar o Alceu Carneiro.

Pois é eu poderia escrever sobre Micaelenses e Ponta Delgadenses ilustres., culturalmente superiores, politicamente imperfeitos. Podia recordar, Alice Moderno, Ruy Galvão de Carvalho, José de Almeida Pavão, Armando Cortes Rodrigues, Armando Cândido de Medeiros. Podia lembrar que ainda estão vivos e para as curvas, Fernando Aires, Cristóvão de Aguiar, Mário Mesquita e tantos outros. Contudo, desses, outros com a eloquência devida e com as capacidades intelectuais necessárias, falarão e escreverão com muito mais conhecimento de causa e propriedade do que eu alguma vez seria capaz de fazer.

Por isso, falo do Alceu. O meu amigo Alceu Carneiro, quarenta anos mais velho do que eu

Um solteirão malcriado quanto baste, mas simpático que vendia tabacos revistas e brinquedos. Também vendia sonhos e quimeras e desassombros. Vendia piadas obscenas sobre mulheres e não perdia a oportunidade de vir à rua dar uma espreitada quando sentia “passos de senhora”.

O Alceu era um grande admirador da Dama de Ferro e de Bush Pai, tinha ao lado de uma bandeira da FLA (Frente de Libertação dos Açores) uma nota de 100 dólares e um copo de moedas do Trump Casino. Mais ao lado, mas com o mesmo destaque três recortes de jornais com as caricaturas de Margaret Thatcher George Bush e Anibal Cavaco Silva.

Passar na Rua António José de Almeida e não entrar na Tabacaria do Alceu para cheirar por instantes aquele odor da Captain Black, o seu tabaco preferido, era quase impossível. Ainda hoje quando desço a rua alcatifada pela nossa autarquia para fazer lembrar o Natal, embora o faça com cada vez menos motivações, olho a montra da sociedade de mediação imobiliária que lhe ocupou o lugar. Cumprimento o Alberto como se estivesse a cumprimentar o Alceu, entro na Pastelaria da frente e peço um café com o mesmo ar de gozo com que era costume perguntar ao Sr. Ferreira da sapataria Atlas se haviam chegado novidades. O Sr. Ferreira vendia os melhores sapatos de Ponta Delgada.

Quando passava uma mulher bonita ou bem feita, gritava em histeria "por favor senhor guarda prenda essa senhora, não há direito de ser assim tão boa". O Alceu Cabido Carneiro, era um daqueles "cromos" que Ponta Delgada não pode esquecer.

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