domingo, novembro 13, 2005

Cidade rural


As raízes desta árvore-da-borracha fazem-me lembrar os emaranhados de ruas da minha cidade. Uma cidade plena de centralidades e de paradoxos, onde a cultura urbana se mistura com uma enorme ruralidade impossível de nos alienarmos. Cheira a silagem ao lado do Hospital, cheira a polpa de beterraba no palácio do Governo.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Titarias - Tito futebolista em Vila do Porto

Tito, um mito com historial em várias equipas suecas(onde ele então residia) era a estrela da equipa(não me lembro os nomes mas uma delas seria o Gonçalo Velho). Entre outras qualidades, Tito tinha umas botas Adidas último modelo, que vinham com uma graxa especial. De São Lourenço à Vila, duvido que existisse alguém que não tivesse «visto» as famosas botas, embrulhadas, em requinte absoluto. Ele fazia questão de mostrar. Uma coisa só para goleadores de elite. Jogo para cá e para lá e temos um «penalty». Ninguém discutiu. A lenda, alegadamente uma estrela do futebol sueco, tinha de marcar. Silêncio, ele corre, corre e... chuta no chão quase facturando um dedo do pé...
Esta estória foi-me enviada hoje mesmo por um primo do Tito que assistiu ao episódio.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Titarias - Teatro Micaelense

O Tito era Homem de cultura, não falhava o cinema ou um recital de piano no Teatro Micaelense. Mas era louco. Um dia no meio de um recital ao qual havia sido levado pela tia, também ela pianista de grandes dotes, logo ao inicio da primeira peça, desatou a bater palmas e a gritar vivas de tal forma que, o pianista nunca mais conseguiu tocar nada que prestasse.
Outra vez lembrou-se de largar um coelho ou dois dentro da plateia do Teatro Micaelense pondo a senhoras em alvoroço ao ponto do filme ser interrompido.
Sabendo das suas brincadeiras, O Senhor Santos Figueira seguia-o atentamente. Um dia, à porta do Teatro, reparou que o Tito não trazia gravata.
- Tito já te disse que não podes entrar aqui sem gravata - Disse convictamente Santos Figueira.
O Tito não esteve com meias medidas foi a casa do Eng. Magalhães, colocou uma das suas gravatas ao pescoço e amarrou todas as outras gravatas que o tio tinha umas às outras e apresentou-se à porta do teatro com uma gravata que chegava quase a meio do largo de São João.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Cromos 2 em 1

A história que vos vou contar não tem só um mas dois, dois cromos da nossa cidade. O Salsa e o Simas.
O Salsa é um daqueles cromos a quem o vinho não faz mal senão a ele mesmo. Digamos que é Homem de bom vinho, não incomoda ninguém, não se mete com ninguém. O Simas já nem tanto, mas a mim nunca importunou senão para cravar um cigarro. Nunca mais o vi.

Um dia, noite alta ou manhã cedo, não posso precisar, o Salsa estava sentado na soleira da porta do Xantarix ( para os mais novos, o Xantarix era um bar muito bem frequentado ali por baixo do restaurante London). Para variar ou para confirmar a regra, o Salsa estava sério. Caso raro. Do outro lado do passeio, arrastava-se com dificuldade o Simas acartando consigo uma daquelas bebedeiras onde afogava as suas desventuras. Levava a calçada de lado a lado, apenas se sustendo nas paredes e no degrau do lancil.
Eis senão quando o Salsa - aquele exemplo de vida regrada e saudável solta um grito: "Eh! que ganda cadela!!".

quarta-feira, agosto 03, 2005

Mais um cromo

O Mestre Pacheco Pintor. Esse mesmo, o da bicicleta de corridas com uma enorme buzina de ar e o seu inconfundível som impossível de simular em linguagem escrita, a sua oficina de pintura ali na rua da Vitória junto à Rua Marciano Henriques da Silva.
A minha, mulher morava aí quando nos conhecemos e travei, por isso, um relacionamento mais estreito com o mestre Pacheco. Uma das histórias mais deliciosas que conheço deste cromo de Ponta Delgada está relacionada com uma enorme colecção de quadros de mulheres nuas que exibia, (não sei se ainda exibe) nas paredes da sua oficina. Um dia lá entrada, alguns dos habituais frequentadores da tertúlia do Pacheco, notaram que os quadros haviam sido substituídos por imagens do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
-EH Pacheco o que é que se passa aqui hoje? Não há gajas nuas nas paredes, é só Santo Cristo!
Ao que o Pacheco respondeu prontamente.
- É que a minha mulher vem cá hoje e então tive que alterar a decoração.
Ao que consta, os quadros das mulheres nuas tinham por trás uma imagem do Santo dos Milagres e quando recebia visita de sua mulher o Pacheco virava-os todos ao contrário.

quarta-feira, março 09, 2005

Ponta Delgada merece melhor

Ponta Delgada não é só aparecer na Revista Açores ou na Açorianissima, ora de vestido azul-bebé tipo "sopeirinha" de coroa do Espírito Santo na Mão ora de vestido Grená comprido em noite de Gala ao estilo "Dama de Ferro". Ponta Delgada não é só Coliseu Micaelense e Parque industrial, nem é só Parque multiusos. Ponta Delgada é bastante mais do que isso.
A vivência do dia a dia de um cidadão Ponta Delgadense está, cada vez mais, complicada.
Bem sei que o estacionamento não é uma preocupação prioritária para quem quer ganhar votos, mas é-o ou, deverá ser, para quem pretende desenvolver uma cidade e para quem está preocupado com o comércio tradicional e com a desertificação da chamada "Baixa da Cidade".
Em dias de Sol, a cidade, como qualquer outra, não mostra as suas maleitas. Pode passear-se pelos passeios da avenida litoral ou pelas ruas da zona histórica sem qualquer sobressalto. Já se chove a conversa é outra.
Milhões gastos no prolongamento (aos esses e sem saída) de uma Avenida em cuja parte velha, o piso se degrada dia após dia e que nada é feito para o melhorar há anos. Além de ser uma violência para as viaturas que nela circulam, tal é a número de covas e ondas que o referido piso apresenta. A velhinha Avenida Infante D. Henrique, litoral de Ponta Delgada, quando chove, torna-se num suceder de poças de água que quase não permite que se estacione o carro e se saia sem, ou pôr o pé na poça ou levar um grande banho de chuveiro pelos automobilistas que nela transitam. Bem sei que a Srª Presidenta e os Senhores vereadores não fazem muito uso da Avenida, nem precisam muito de arranjar lugar para estacionar mas podiam, muito bem, ter mais um pouco de consideração por quem necessita circular na Cidade.

terça-feira, janeiro 04, 2005

Um ano

Este humilde blogue completa hoje um ano de existência. De cromo em cromo, de lugar em lugar, eu que já detestei Ponta Delgada e que voltei a apaixonar-me por ela, tenho tentado aqui, ao longo deste último ano, deixar testemunhos de coisas da Cidade às quais, normalmente, pouca gente liga.


Eu gosto da Cidade pelas suas idiossincrasias.
Este Ponta Delgada, com um novo visual, graças ao empenho do meu amigo Pedro Arruda, estava destinado a ter uma nova linha editorial já a partir de hoje. Contudo, vicissitudes da vida de um homem público e que vão perceber mais logo depois dos noticiários da tarde, não permitirão que inicie para já essa nova era do Ponta Delgada. Fica, no entanto, a promessa para daqui a uns meses.
Obrigado a todos os que me visitam aqui, no Foguetabraze e no Corsário das Ilhas.