domingo, outubro 22, 2006
Creio nos anjos que andam pelo mundo
creio nos anjos que andam pelo mundo,
creio na deusa com olhos de diamantes,
creio em amores lunares com piano ao fundo,
creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;
creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes dissonantes,
creio que tudo é eterno num segundo,
creio num céu futuro que houve dantes,
creio nos deuses de um astral mais puro,
na flor humilde que se encosta ao muro,
creio na carne que enfeitiça o além,
creio no incrível, nas coisas assombrosas,
na ocupação do mundo pelas rosas,
creio que o amor tem asas de ouro. amém.
Natália Correia
domingo, outubro 15, 2006
Poesia de Ponta Delgada
O Palácio da Ventura
Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formusura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
Antero de Quental
Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formusura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
Antero de Quental
terça-feira, junho 27, 2006
Nem de propósito
Hoje passei junto ao Relvão, coisa que raramente faço por não ser rota de meu costume. O João Pacheco de Melo lembrou um episódio do passado honroso daquele lugar, ali se reuniram os 7500 "Bravos do Mindelo" que hoje há 174 anos foram em socorro de D. Pedro IV e que libertaram o Reino do jugo absolutista de D. Miguel e da Rainha D. Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Paula Isidoro Micaela Gabriela Rafaela e Gonzaga, abreviadamente D. Maria II de Portugal
O Relvão já foi, em tempos, lugar de eleição para as minhas aventuras ciclisticas. Na época, éramos uns quantos rapazolas na pré-adolescência que fazíamos "Rally" de bicicleta. A minha JAVA 24 era como a nimbus 2000 do Harry Potter, uma "brasa", nunca entrou na oficina do Zarolho, ali na rua Ernesto do Canto, a minha reparava-a eu. Reparava a minha e as de mais alguns, cheguei a fazer negócio com a habilidade para mecânico.
Havia grupos e zonas da cidade onde se faziam os melhores rallys de bicicleta e ciclocross da Europa. A nossa Europa começava na Mata-da-doca e acabava no Relvão. De permeio ficava o Lajedo e o jardim do Palácio de Santana. Estes eram as grandes quatro locais da cidade onde as coisas se passavam. Corri em todos, ganhei muitas corridas, era dos melhores, modéstia à parte. Na verdade, era dos melhores em quase tudo, só nunca soube jogar matraquilhos, ainda hoje não sei rolar, nem bem nem mal, aquelas ponteiras de aço com bonequinhos de ferro fundido pintados com as cores dos clubes do campeonato nacional. O Carlos, amigo de infância de aventuras e desventuras em terras de Nordeste, há dias encontrou-me no hipermercado. Hoje em dia encontro toda a gente no hipermercado. Haverá coisa mais democrática do que a ida ao hipermercado? O Carlos, dizia eu, perguntou-me na sua maliciosa ironia, Já aprendeste a jogar matraquilhos? Eu tinha jurado com dentadas de raiva nos dedos que havia de lhe ganhar um dia. Nunca consegui. O máximo que conseguia era o desafiar para uma partida de ping-pong em jeito de desforra. O Carlos também nunca me ganhou em jogos de raquete, jogávamos badmington e ténis-de-mesa no viveiro, na pousada dos guardas florestais.
Pois é, afinal esta croniqueta blogosférica era para falar do Relvão. Mas aquele espaço é isso mesmo, um monte de recordações, transporta-me para a infância como se de uma máquina do tempo se tratasse.
Por estes dias vai haver por ali arraial, também fiquei a saber isso hoje. Não quero saber se vai ter fado, guitarrada, brasileiras e demais despesas inúteis, desde que à luz do balão e entre o fumo da sardinha assada e na espuma do copo da cerveja, os Pontadelgadenses saibam, pelo menos, um pouco da história do Relvão, pelo menos o pouquinho, quase nada, que eu sei.
O Relvão já foi, em tempos, lugar de eleição para as minhas aventuras ciclisticas. Na época, éramos uns quantos rapazolas na pré-adolescência que fazíamos "Rally" de bicicleta. A minha JAVA 24 era como a nimbus 2000 do Harry Potter, uma "brasa", nunca entrou na oficina do Zarolho, ali na rua Ernesto do Canto, a minha reparava-a eu. Reparava a minha e as de mais alguns, cheguei a fazer negócio com a habilidade para mecânico.
Havia grupos e zonas da cidade onde se faziam os melhores rallys de bicicleta e ciclocross da Europa. A nossa Europa começava na Mata-da-doca e acabava no Relvão. De permeio ficava o Lajedo e o jardim do Palácio de Santana. Estes eram as grandes quatro locais da cidade onde as coisas se passavam. Corri em todos, ganhei muitas corridas, era dos melhores, modéstia à parte. Na verdade, era dos melhores em quase tudo, só nunca soube jogar matraquilhos, ainda hoje não sei rolar, nem bem nem mal, aquelas ponteiras de aço com bonequinhos de ferro fundido pintados com as cores dos clubes do campeonato nacional. O Carlos, amigo de infância de aventuras e desventuras em terras de Nordeste, há dias encontrou-me no hipermercado. Hoje em dia encontro toda a gente no hipermercado. Haverá coisa mais democrática do que a ida ao hipermercado? O Carlos, dizia eu, perguntou-me na sua maliciosa ironia, Já aprendeste a jogar matraquilhos? Eu tinha jurado com dentadas de raiva nos dedos que havia de lhe ganhar um dia. Nunca consegui. O máximo que conseguia era o desafiar para uma partida de ping-pong em jeito de desforra. O Carlos também nunca me ganhou em jogos de raquete, jogávamos badmington e ténis-de-mesa no viveiro, na pousada dos guardas florestais.
Pois é, afinal esta croniqueta blogosférica era para falar do Relvão. Mas aquele espaço é isso mesmo, um monte de recordações, transporta-me para a infância como se de uma máquina do tempo se tratasse.
Por estes dias vai haver por ali arraial, também fiquei a saber isso hoje. Não quero saber se vai ter fado, guitarrada, brasileiras e demais despesas inúteis, desde que à luz do balão e entre o fumo da sardinha assada e na espuma do copo da cerveja, os Pontadelgadenses saibam, pelo menos, um pouco da história do Relvão, pelo menos o pouquinho, quase nada, que eu sei.
quarta-feira, junho 21, 2006
Azia
Se jogarmos com a Argentina ou com a Holanda como jogamos com o México, vamos para casa com meia dúzia de golos no bucho.
terça-feira, junho 20, 2006
A minha cidade
Eu gosto da minha cidade. Com luz com vida, sem o reboliço dos finais de semana. Eu gosto da minha cidade de uma maneira diferente da maioria dos seus cidadãos. Talvez por isso, onde eu ando encontro turistas, eles gostam da cidade que eu gosto?
sexta-feira, junho 02, 2006
Porque sim
Porque eu quero, porque gosto de desafios grandes. Porque Ponta Delgada e a poesia merecem, mas principalmente porque, enfim.
Dizia-me o Pedro Arruda, há dias, que deveria manter apenas o Foguetabraze e deixar de parte o Corsário das Ilhas e o Ponta Delgada. De facto, seria bem mais fácil manter o Pai dos meus blogues actualizado se não me despersasse tanto pelo seus blogues associados e pelos ontros onde colabroro como o Gritos de Santa Maria, o moribundo Olhómetro e até mesmo o ZOOM.
Seria sensato (alguma vez o fui) da minha parte e congregaria leitores no Foguetabraze se assim o fizesse. Mas não. No Olhómetro e no Gritos de Santa Maria falo apenas de questões locais, sobre Santa Maria, as suas gentes, as suas aflições e as suas angústias. No Corsário das Ilhas, essa espécie de Blogue Copy & Paste, coloco textos de que gosto de autores que admiro e não me canso de reler.
Neste Ponta Delgada, disponibilizo, com pouca frequência é certo, e não com aquela que gostava, assuntos da cidade, da sua vivência histórica, política e social. Têm-me desafiado a escrever sobre mais alguns dos cromos desta Cidade, mas até nisso a Capital mudou muito, já não há cromos como antigamente, acarinhados, respeitados e idiossincráticos, ou melhor ainda restam alguns.
Na semana que passou tenho-me lembrado bastante de algumas dessas figuras, da Manca pela incompetência, do Sagão pela sua seriedade, isso para falar dos mortos. Felizmente, do reino dos vivos fazem parte o Tomé do Santa Clara, o Bruce Lee, O Alcides, o José do Royal O Gabriel da Tabacaria, o Tigre, O Gatuno, o Cigano, Mestre Liberto Tavares e tantos outros que, por uma ou outra razão marcam a vida da cidade.
Note-se que, o epíteto de cromo, para mim, nada tem de depreciativo, pelo contraio é um estatuto que só aqueles que têm obra valerosa podem alcançar.
Ah lembrei-me de mais uma, aliás foi o Alexandre Pascoal que me lembrou há dias a respeito das festas do Senhor Santo Cristo, aquela Senhora da roleta junto ao balneário municipal que, há mais de 30 anos ouço gritar o pregão “ e roooooda à série 31!!!”
Dizia-me o Pedro Arruda, há dias, que deveria manter apenas o Foguetabraze e deixar de parte o Corsário das Ilhas e o Ponta Delgada. De facto, seria bem mais fácil manter o Pai dos meus blogues actualizado se não me despersasse tanto pelo seus blogues associados e pelos ontros onde colabroro como o Gritos de Santa Maria, o moribundo Olhómetro e até mesmo o ZOOM.
Seria sensato (alguma vez o fui) da minha parte e congregaria leitores no Foguetabraze se assim o fizesse. Mas não. No Olhómetro e no Gritos de Santa Maria falo apenas de questões locais, sobre Santa Maria, as suas gentes, as suas aflições e as suas angústias. No Corsário das Ilhas, essa espécie de Blogue Copy & Paste, coloco textos de que gosto de autores que admiro e não me canso de reler.
Neste Ponta Delgada, disponibilizo, com pouca frequência é certo, e não com aquela que gostava, assuntos da cidade, da sua vivência histórica, política e social. Têm-me desafiado a escrever sobre mais alguns dos cromos desta Cidade, mas até nisso a Capital mudou muito, já não há cromos como antigamente, acarinhados, respeitados e idiossincráticos, ou melhor ainda restam alguns.
Na semana que passou tenho-me lembrado bastante de algumas dessas figuras, da Manca pela incompetência, do Sagão pela sua seriedade, isso para falar dos mortos. Felizmente, do reino dos vivos fazem parte o Tomé do Santa Clara, o Bruce Lee, O Alcides, o José do Royal O Gabriel da Tabacaria, o Tigre, O Gatuno, o Cigano, Mestre Liberto Tavares e tantos outros que, por uma ou outra razão marcam a vida da cidade.
Note-se que, o epíteto de cromo, para mim, nada tem de depreciativo, pelo contraio é um estatuto que só aqueles que têm obra valerosa podem alcançar.
Ah lembrei-me de mais uma, aliás foi o Alexandre Pascoal que me lembrou há dias a respeito das festas do Senhor Santo Cristo, aquela Senhora da roleta junto ao balneário municipal que, há mais de 30 anos ouço gritar o pregão “ e roooooda à série 31!!!”
quinta-feira, janeiro 19, 2006
Hipotecar o futuro apagando o passado
Não se hipoteca o futuro de uma cidade só contraindo dividas. Na verdade, as más opções urbanísticas são mais perniciosas do que as dividas das autarquias. Eu tinha fé que, a contenção imposta pelo novo enquadramento da lei de financiamento das autarquias, tivesse a bonomia de não permitir a alguns autarcas fazerem disparates. Contudo, há sempre que arranje maneira de contrariar a tendência e como para o mal arranja-se sempre maneira, vieram na onda das SCUT, os PSCA- Parques sem custos par as autarquias. Na realidade, a construção do parque de estacionamento subterrâneo em frente ao Teatro Micaelense é uma forma encapotada de, ao abrigo de um acordo de exploração de vinte e cinco anos, fazer-se uma obra sem custos para a Autarquia e que vai ser paga pelo utentes, ou seja é um mecanismo inverso às SCUT.
Sobre essa invenção da Dr.ª Berta Cabral, tenho, pelo menos, duas coisas a dizer:
1-Não faz sentido que, depois de se ter gasto milhões do erário público para fazer obras no Teatro Micaelense, mantendo a sua traça original, enfeirar-lhe à frente um jardim de bancos de betão e quiosques de duvidoso sentindo estético;
2- Não faz sentido, pelo menos na minha cabeça, fazer obras em nome do estacionamento e acabar por reduzir o número de lugares disponíveis para esse mesmo estacionamento. Mais não digo sobre este disparate que é de uma falta de visão e ambição tais que só é mesmo ultrapassado pela “canadinha” que vai de Santa Clara à Relva ou por aquela amostra de via litoral sem sentido que a mesma autarquia fez em São Roque.
Eu sei que não vou mudar nada e que, a candidatar-se outra vez, a Dr.ª Berta volta a ter 70% dos votos, mas fica aqui registado para gerações vindouras que para além de uma maioria ávida de foguetório e forro, havia por essas paragens quem gostasse mesmo disso.
Como diz um amigo meu, "merecíamos políticos melhores".
terça-feira, janeiro 17, 2006
Tito na Urbana
A história mais hilariante do Tito Magalhães é uma passada ali junto à PEPE. Nesse tempo, circulavam pela cidade umas camionetas de passageiros que faziam, mais ou menos, o que fazem hoje os Mini-Bus. Eram as Urbanas. Uma das Paragens da Urbana mais movimentada de Ponta Delgada era junto à cafeteria PEPE, onde hoje é a Reviera Lady e onde, ainda hoje, existe uma paragem de Urbana. Em frente à PEPE juntavam-se dezenas de pessoas.
Um dia, assegurando que o espectáculo estava garantido pela presença de muita juventude na porta da PEPE, ao ver aproximar-se a Urbana, o Tito corre para a paragem em grande alarido, levanta o braço em sinal de paragem e o condutor pára a camioneta. Nesse momento, o Tito põe o pé no estribo do autocarro, faz o nó aos atacadores dos sapatos e exclama um "muito obrigado" para o Condutor.
Podem imaginar os impropérios proferidos pelo condutor e a galhofa da juventude em frente à PEPE.
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